TAREFA EDUCAÇÃO FÍSICA
Prof. Giovanni Frizzo
Olá educandos e educandas,
Espero
que estejam bem resguardados e se protegendo da pandemia.
A tarefa de Educação Física que apresentamos é para refletir sobre o nosso
corpo e nossa saúde a partir da cultura que temos. A cultura é a forma como
produzimos a nossa vida. Já parou para pensar que diversos povos e comunidades
tem formas próprias de vida que se
distingue do jeito que nos vestimos, nos alimentamos, moramos etc?
Pois é, muitas vezes essas diferenças culturais são usadas como
formas de dominação. Como se houvesse uma cultura dominante superior e que as
demais fossem inferiores.
Agora, olhe para si
mesmo e pense: eu me identifico com essas características ou tenho minha própria identidade cultural do povo
a que pertenço?
Uma parte dessa cultura
toda se chama Cultura Corporal, que é a
base daquilo que trabalhamos na Educação Física na escola. Nessa cultura do
corpo, cada povo ou comunidade produz suas formas próprias com sentidos de
pertencimento e rituais corporais que fazem parte do cotidiano e são
transmitidos de geração para geração.
Quando nos deparamos
com outras culturas e rituais diferentes dos nossos, muitas vezes achamos
estranho, primitivo e se avalia com preconceitos. Com o texto que apresentamos
abaixo, queremos refletir sobre isso. Portanto, a tarefa a ser feita é:
1) Leia o texto com atenção destacando as passagens que
mais lhe chamaram atenção
2) Em uma folha, faça pequenos desenhos (pode ser rabiscos)
que representem essas passagens que destacaste anteriormente. Mande uma foto
dos desenhos que fizeste.
3) Observe os desenhos que fizeste e tente verificar se
encontras mais semelhanças ou diferenças com os teus próprios rituais corporais
do dia-a-dia. Escreva abaixo a sua reflexão sobre isso.
4) Agora, pense na cultura que te inseres - no teu povo,
tua comunidade, teu ambiente familiar - e descreva: quais são os rituais
corporais e de cuidados à saúde que tu e as pessoas à tua volta fazem? Algumas
destas se comparam com a civilização Nacirema?
5) Para estimular a criatividade, tente descrever estes
rituais da tua comunidade como se estivesse falando para uma pessoa que nunca
entrou em contato contigo ou com nosso meio.
O Ritual do Corpo entre os Nacirema
Horace Minner
Todas
as culturas possuem uma configuração particular, um estilo. Freqüentemente, um
determinado valor central ou uma forma de perceber o
mundo deixam suas marcas em várias instituições da sociedade. Neste
artigo, Horace Minner demonstra que “atitudes quanto ao corpo” têm influência
generalizada em muitas instituições da sociedade Nacirema. As crenças e
práticas mágicas deste povo apresentam aspectos tão pouco usuais, que nos
parece importante descrevê-las como exemplos dos extremos a que o comportamento
humano pode chegar.
Embora,
há mais de vinte anos, o Prof. Linton já tivesse chamado a atenção dos
antropólogos para o complexo ritual dos Nacirema, a cultura deste povo
ainda é pouco compreendida. Eles
constituem um grupo norte-americano que vive no território que se estende entre
os Cree, do Canadá, aos Yaqui e Tarahumara, do México, e aos Caribe e Aruque,
das Antilhas. Pouco se sabe quanto à sua origem, embora a tradição mística
afirme que eles vieram do leste.
A
cultura Nacirema se caracteriza por uma economia de mercado altamente
desenvolvida, que se beneficiou de um ‘habitat’ natural muito rico. Embora,
nesta sociedade, a maior parte do tempo das pessoas seja devotada à ocupação
econômica, uma grande porção dos frutos destes trabalhos, e uma considerável
parte do dia, são despendidas em atividades rituais. O foco destas atividades é
o corpo humano, cuja aparência e saúde constituem a preocupação
dominante dentro do ‘ethos’ deste povo.
A
crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo
humano é feio, e que sua tendência natural é a debilidade e a doença.
Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é evitar essas
características, através do uso de poderosas influências do ritual e da
cerimônia. Todo o grupo doméstico possui
um ou mais santuários dedicados a tal propósito.
Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm vários santuários em
sua casa e, de fato, a opulência de uma
moradia é freqüentemente aferida em termos da quantidade destes centros de rituais
que abrigam.
O
ponto focal do santuário é uma caixa ou arca embutida na parede. Nesta arca são
guardados os inúmeros feitiços e porções mágicas, sem os quais nenhum nativo
acredita que poderia viver. Tais feitiços e porções são obtidos de vários curandeiros
cujos serviços devem ser retribuídos por meio de presentes substanciais. No
entanto, o curandeiro não fornece as porções curativas para os fiéis, decidindo
apenas os ingredientes que nela devem entrar, escrevendo-os, em seguida, em
linguagem antiga e secreta. Tal escrita deve ser decifrada pelos herbanários,
os quais, mediante outros presentes, fornecem o feitiço desejado.
O
feitiço não é descartado depois de ter servido a seu propósito, mas colocado na
caixa de mágica do santuário doméstico. Como esses materiais mágicos são
específicos para certas doenças, e considerando-se que as doenças reais ou
imaginárias deste povo são muitas, a caixa de mágica costuma estar sempre transbordando. Os pacotes
mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem sua serventia original, e
temem usá-los de novo. Embora os nativos tenham se mostrado vagos em relação a
essa questão, só podemos concluir que a idéia subjacente ao costume de se
guardar todos os velhos materiais mágicos é a
de que sua presença na caixa de mágica, diante da qual os rituais do
corpo são encenados, protegem de alguma forma o fiel.
Embaixo
da caixa de mágica existe uma pequena fonte. Todo dia, cada membro da família,
em sucessão, entra no santuário, curva a
cabeça diante da caixa de mágica, mistura
diferentes tipos de água sagrada na fonte e realiza um breve rito de ablução.
Na hierarquia dos profissionais da magia, e abaixo do curandeiro em termos de prestígio, estão os que são designados como ‘homens-da-boca-sagrada’. Os Nacirema nutrem um misto de horror pela e fascinação por suas bocas que chega às raias da patologia. Acredita-se que a condição da boca possui uma influênciasobrenatural nas relações sociais. Assim, o ritual do corpo, cotidianamente realizado por todos, inclui um rito bucal. O rito consiste na introdução de um pequeno feixe de cerdas na boca, juntamente com uma espécie de creme mágico e, em seguida, na movimentação deste feixe, segundo uma série de gestos altamente ritualizados.
Além deste rito
bucal privado, as pessoas procuram um ‘homem-da-boca- sagrada’, uma ou duas
vezes por ano. No seu templo, este mago possui uma impressionante parafernália
que consiste em uma variedade de perfuratrizes, furadores, sondas e agulhas. O
uso destes objetos no exorcismo dos perigos da
boca implica em uma quase e inacreditável tortura ritual do fiel e,
usando as ferramentas citadas, alarga qualquer buraco que o uso tenha feito nos
dentes. Se não se encontram buracos
naturais nos dentes, grandes seções de um ou
mais dentes são serrados, para que a substância sobrenatural possa ser
aplicada. Na imaginação do fiel, o objetivo destas aplicações é deter o
apodrecimento dos dentes e atrair
amigos. O caráter extremamente sagrado e tradicional do mito fica evidente no
fato de que os nativos retornam, todo ano, ao ‘homem-da-boca- sagrada’, embora
seus dentes continuem a se deteriorar.
Os
curandeiros possuem um templo imponente, o Latipsoh, em cada comunidade, de
algum tamanho. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para o tratamento de fiéis considerados muito
doentes, só podem ser realizadas neste templo. Tais cerimônias envolvem não só
o taumaturgo, mas também um grupo permanente de vestais que se movimentam nas
câmaras do templo com uma roupa distintiva.
As cerimônias no Latipsoh podem chegar a ser tão violentas que surpreende o fato de que uma razoável proporção dos nativos realmente doentes, que entram no templo, consiga se curar. Crianças pequenas, cuja doutrinação é ainda incompleta, costumam resistir às tentativas de levá-los ao templo, alegando que ‘é aonde você vai para morrer’. Apesar disso, os doentes adultos não apenas desejam, como ficam ansiosos para submeter-se à prolongada purificação ritual,se possuem meios para tanto.
Os guardiães do templo, não importa quão doente o suplicante esteja ou quão grave a emergência, não admitem o fiel se ele não puder dar um rico presente ao zelador. Mesmo depois que se conseguiu a admissão e se sobreviveu às cerimônias, os guardiães não permitem a saída do neófito até que este dê ainda outro presente.
O(a) suplicante, ao
entrar no templo, é despido(a) de todas as suas roupas. Na vida cotidiana, os Nacirema evitam a
exposição de seus corpos quando das suas funções naturais. O banho e a excreção
são realizados somente na intimidade do santuário doméstico,
aonde são ritualizados, fazendo parte dos ritos corporais.
Poucos
suplicantes no templo estão suficientemente bem
para fazer qualquer coisa que não
seja ficar deitado em suas camas duras. As cerimônias implicam desconforto e
tortura. Com precisão ritual, as vestais acordam a cada madrugada seus
miseráveis crentes, rolam-nos em seus leitos de dor, em quanto realizam
abluções, cujos movimentos formalizados são objeto de treinamento intensivo das
vestais. Em outros momentos, elas inserem varas mágicas na boca do fiel, ou
obrigam-no a ingerir substâncias que são consideradas curativas. De tempos em
tempos, os curandeiros vêm até seus fiéis e atiram agulhas, magicamente
tratadas, em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não
curar, ou até matar o neófito, não diminui
de modo algum a fé do povo nos curandeiros.
Para concluirmos, deve-se mencionar certas práticas que
estão baseadas na estética nativa, mas que dependem da aversão generalizada ao
corpo e às funções naturais. Há jejuns rituais para fazer pessoas gordas
ficarem magras, e banquetes cerimoniais para fazer pessoas magras ficarem
gordas. Outros ritos ainda são usados para tornar maiores os seios das
mulheres, se eles são pequenos, e menores, se são grandes.
Nossa descrição da vida dos Nacirema certamente mostrou que eles são um povo obcecado pela magia. É difícil compreender como eles conseguiram sobreviver por tanto tempo, sob os pesados fardos que eles próprios seimpuseram. Mas, mesmo costumes tão exóticos quanto estes, ganham seu verdadeiro sentido quando encarados a partir do esclarecimento feito por Malinivski:
“Olhando de cima e de longe, dos lugares seguros e elevados
da civilização desenvolvida, é fácil ver toda a rudeza e a irrelevância da
magia. Mas, sem este poder e este guia, o homem primitivo não poderia ter
dominado as dificuldades práticas como fez,
nem poderia o homem ter avançado até os mais altos estágios de civilização.”
In: “American Anthropologist, vol. 58 (1956), pp. 503 - 507.
“Body ritual among the Nacirema”