segunda-feira, 22 de junho de 2020

Tarefa 07 - Educação Física



TAREFA EDUCAÇÃO FÍSICA

Prof. Giovanni Frizzo

 Data entrega: 29/06/2020 via waths: 53 - 9 9909.7514

            Olá educandos e educandas,

            Espero que estejam bem resguardados e se protegendo da pandemia.

           

            A tarefa de Educação Física que apresentamos é para refletir sobre o nosso corpo e nossa saúde a partir da cultura que temos. A cultura é a forma como produzimos a nossa vida. Já parou para pensar que diversos povos e comunidades tem formas próprias  de vida que se distingue do jeito que nos vestimos, nos alimentamos, moramos etc?

           

          Pois é, muitas vezes essas diferenças culturais são usadas como formas de dominação. Como se houvesse uma cultura dominante superior e que as demais fossem inferiores.

            Agora, olhe para si mesmo e pense: eu me identifico com essas características ou tenho minha própria identidade cultural do povo a que pertenço?

 

            Uma parte dessa cultura toda se chama Cultura Corporal, que é a base daquilo que trabalhamos na Educação Física na escola. Nessa cultura do corpo, cada povo ou comunidade produz suas formas próprias com sentidos de pertencimento e rituais corporais que fazem parte do cotidiano e são transmitidos de geração para geração.

 

            Quando nos deparamos com outras culturas e rituais diferentes dos nossos, muitas vezes achamos estranho, primitivo e se avalia com preconceitos. Com o texto que apresentamos abaixo, queremos refletir sobre isso. Portanto, a tarefa a ser feita é:

1) Leia o texto com atenção destacando as passagens que mais lhe chamaram atenção

 

2) Em uma folha, faça pequenos desenhos (pode ser rabiscos) que representem essas passagens que destacaste anteriormente. Mande uma foto dos desenhos que fizeste.

 

3) Observe os desenhos que fizeste e tente verificar se encontras mais semelhanças ou diferenças com os teus próprios rituais corporais do dia-a-dia. Escreva abaixo a sua reflexão sobre isso.

 

4) Agora, pense na cultura que te inseres - no teu povo, tua comunidade, teu ambiente familiar - e descreva: quais são os rituais corporais e de cuidados à saúde que tu e as pessoas à tua volta fazem? Algumas destas se comparam com a civilização Nacirema?

 

5) Para estimular a criatividade, tente descrever estes rituais da tua comunidade como se estivesse falando para uma pessoa que nunca entrou em contato contigo ou com nosso meio.


O Ritual do Corpo entre os Nacirema

Horace Minner

 

 

Todas as culturas possuem uma configuração particular, um estilo. Freqüentemente, um determinado valor central ou uma forma de perceber  o  mundo deixam suas marcas em várias instituições da sociedade. Neste artigo, Horace Minner demonstra que “atitudes quanto ao corpo” têm influência generalizada em muitas instituições da sociedade Nacirema. As crenças e práticas mágicas deste povo apresentam aspectos tão pouco usuais, que nos parece importante descrevê-las como exemplos dos extremos a que o comportamento humano pode chegar.

Embora, há mais de vinte anos, o Prof. Linton já tivesse chamado a atenção dos antropólogos para o complexo ritual dos Nacirema, a cultura deste povo ainda  é pouco compreendida. Eles constituem um grupo norte-americano que vive no território que se estende entre os Cree, do Canadá, aos Yaqui e Tarahumara, do México, e aos Caribe e Aruque, das Antilhas. Pouco se sabe quanto à sua origem, embora a tradição mística afirme que eles vieram do leste.

A cultura Nacirema se caracteriza por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que se beneficiou de um ‘habitat’ natural muito rico. Embora, nesta sociedade, a maior parte do tempo das pessoas seja devotada à ocupação econômica, uma grande porção dos frutos destes trabalhos, e uma considerável parte do dia, são despendidas em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde constituem a  preocupação  dominante  dentro do ‘ethos’ deste povo.

A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é feio, e que sua tendência natural é a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é evitar essas características, através do uso de poderosas influências do ritual e da cerimônia. Todo o grupo doméstico possui um ou mais santuários dedicados a tal propósito.


Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm vários santuários em sua casa   e, de fato, a opulência de uma moradia é freqüentemente aferida em termos da quantidade destes centros de rituais que abrigam.

O ponto focal do santuário é uma caixa ou arca embutida na parede. Nesta arca são guardados os inúmeros feitiços e porções mágicas, sem os quais nenhum nativo acredita que poderia viver. Tais feitiços e porções são obtidos de vários curandeiros cujos serviços devem ser retribuídos por meio de presentes substanciais. No entanto, o curandeiro não fornece as porções curativas para os fiéis, decidindo apenas os ingredientes que nela devem entrar, escrevendo-os, em seguida, em linguagem antiga e secreta. Tal escrita deve ser decifrada pelos herbanários, os quais, mediante outros presentes, fornecem o feitiço desejado.

O feitiço não é descartado depois de ter servido a seu propósito, mas colocado na caixa de mágica do santuário doméstico. Como esses materiais mágicos são específicos para certas doenças, e considerando-se que as doenças reais ou imaginárias deste povo são muitas, a caixa de mágica costuma  estar sempre transbordando. Os pacotes mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem sua serventia original, e temem usá-los de novo. Embora os nativos tenham se mostrado vagos em relação a essa questão, só podemos concluir que a idéia subjacente ao costume de se guardar todos os velhos materiais mágicos é a   de que sua presença na caixa de mágica, diante da qual os rituais do corpo são encenados, protegem de alguma forma o fiel.

Embaixo da caixa de mágica existe uma pequena fonte. Todo dia, cada membro da família, em sucessão, entra no  santuário, curva a cabeça diante da  caixa de mágica, mistura diferentes tipos de água sagrada na fonte e realiza um breve rito de ablução.

Na hierarquia dos profissionais da magia, e abaixo do curandeiro em termos de prestígio, estão os que são designados como ‘homens-da-boca-sagrada’. Os Nacirema nutrem um misto de horror pela e fascinação por  suas bocas que chega às raias da patologia. Acredita-se que a condição da boca possui uma influênciasobrenatural nas relações sociais. Assim, o ritual do corpo, cotidianamente realizado por todos, inclui um rito bucal. O rito consiste na introdução de um pequeno feixe de cerdas na boca, juntamente com uma espécie de creme mágico e, em seguida, na movimentação deste feixe, segundo uma série de gestos altamente ritualizados.

Além deste rito bucal privado, as pessoas procuram um ‘homem-da-boca- sagrada’, uma ou duas vezes por ano. No seu templo, este mago possui uma impressionante parafernália que consiste em uma variedade de perfuratrizes, furadores, sondas e agulhas. O uso destes objetos no exorcismo dos perigos da  boca implica em uma quase e inacreditável tortura ritual do fiel e, usando as ferramentas citadas, alarga qualquer buraco que o uso tenha feito nos dentes. Se  não se encontram buracos naturais nos dentes, grandes seções de um ou  mais dentes são serrados, para que a substância sobrenatural possa ser aplicada. Na imaginação do fiel, o objetivo destas aplicações é deter o apodrecimento  dos dentes e atrair amigos. O caráter extremamente sagrado e tradicional do mito fica evidente no fato de que os nativos retornam, todo ano, ao ‘homem-da-boca- sagrada’, embora seus dentes continuem a se deteriorar.

Os curandeiros possuem um templo imponente, o Latipsoh, em cada comunidade, de algum tamanho. As cerimônias mais elaboradas, necessárias para  o tratamento de fiéis considerados muito doentes, só podem ser realizadas neste templo. Tais cerimônias envolvem não só o taumaturgo, mas também um grupo permanente de vestais que se movimentam nas câmaras do templo com uma roupa distintiva.

As cerimônias no Latipsoh podem chegar a ser tão violentas que surpreende o fato de que uma razoável proporção dos nativos realmente doentes, que entram  no templo, consiga se curar. Crianças pequenas, cuja doutrinação é ainda incompleta, costumam resistir às tentativas de levá-los ao templo, alegando que ‘é aonde você vai para morrer’. Apesar disso, os doentes adultos não  apenas  desejam, como ficam ansiosos para submeter-se à prolongada purificação ritual,se possuem meios para tanto. 


Os guardiães do templo, não importa quão doente o suplicante esteja ou quão grave a emergência, não admitem o fiel se ele não puder dar um rico presente ao zelador. Mesmo depois que se conseguiu a admissão e se sobreviveu às cerimônias, os guardiães não permitem a saída do neófito até que  este dê ainda outro presente.

O(a) suplicante, ao entrar no templo, é despido(a) de todas as suas roupas.  Na vida cotidiana, os Nacirema evitam a exposição de seus corpos quando  das  suas funções naturais. O banho e a excreção são realizados somente na intimidade do santuário doméstico, aonde são ritualizados, fazendo parte dos ritos corporais.

Poucos suplicantes no templo estão suficientemente bem  para  fazer qualquer coisa que não seja ficar deitado em suas camas duras. As cerimônias implicam desconforto e tortura. Com precisão ritual, as vestais acordam a cada madrugada seus miseráveis crentes, rolam-nos em seus leitos de dor, em quanto realizam abluções, cujos movimentos formalizados são objeto de treinamento intensivo das vestais. Em outros momentos,  elas  inserem varas mágicas na boca do fiel, ou obrigam-no a ingerir substâncias que são consideradas curativas. De tempos em tempos, os curandeiros vêm até seus fiéis e atiram agulhas, magicamente tratadas, em sua carne. O fato de que estas cerimônias do templo possam não curar, ou até matar o neófito, não diminui  de modo algum a fé do  povo nos curandeiros.

Para concluirmos, deve-se mencionar certas práticas que estão baseadas na estética nativa, mas que dependem da aversão generalizada ao corpo e às funções naturais. Há jejuns rituais para fazer pessoas gordas ficarem magras, e banquetes cerimoniais para fazer pessoas magras ficarem gordas. Outros ritos ainda são usados para tornar maiores os seios das mulheres, se eles são pequenos,  e  menores, se são grandes.

Nossa descrição da vida dos Nacirema certamente mostrou que eles são um povo obcecado pela magia. É difícil compreender como eles conseguiram sobreviver por tanto tempo, sob os pesados fardos que eles próprios seimpuseram. Mas, mesmo costumes tão exóticos quanto estes, ganham seu verdadeiro sentido quando encarados a partir do esclarecimento feito por Malinivski:


“Olhando de cima e de longe, dos lugares seguros e elevados da civilização desenvolvida, é fácil ver toda a rudeza e a irrelevância da magia. Mas, sem este poder e este guia, o homem primitivo não poderia ter dominado as dificuldades práticas como fez,  nem poderia o homem ter avançado até os mais altos estágios  de civilização.”

 

In: “American Anthropologist, vol. 58 (1956), pp. 503 - 507.

“Body ritual among the Nacirema”